Em defesa da abstenção vacinal

10 08 2021

Aqueles que se recusam a ser vacinados não negam a existência do vírus SARS-CoV-2, consideram apenas a abstenção uma alternativa preferível. Eles não são “negacionistas” — um termo falacioso — mas “abstencionistas”. Qualquer direito inclui a possibilidade de não exercê-lo, por exemplo, o direito de voto implica o direito à abstenção e o direito do credor de cobrar implica a possibilidade de cancelar a dívida; da mesma forma, se houver direito à vacinação, também há um direito igual de não ser vacinado.

Antes de agir, cada indivíduo analisa subjetivamente (com as informações disponíveis) os potenciais benefícios e riscos das diferentes linhas de ação ou alternativas. A ciência, a estatística e as recomendações de técnicos e amigos podem nos ajudar durante o processo, mas, em última análise, cabe a cada indivíduo decidir por si e, quando apropriado, pelos menores sob sua tutela. A vacina considera que (potencialmente) o benefício excede o risco e, portanto, aceita que a autoridade de saúde decida a ordem (grupos prioritários, faixas etárias) e as condições de vacinação, em particular, a marca do frasco que você receberá. Quando o Estado monopoliza a vacinação, a única opção oferecida ao paciente é: braço direito ou esquerdo?

Existem várias razões para a abstenção vacinal. Alguns querem se vacinar, mas não com a marca imposta pelo governo e preferem esperar pela liberdade de escolha. Outros consideram que os riscos da vacinação (médio e longo prazo) são desconhecidos e ninguém é responsável pelas consequências da administração de um medicamento na fase experimental. Outros desconfiam sistematicamente do governo, dos comitês de especialistas ao seu serviço e de uma suspeita ausência de pluralidade de informações. Qualquer mensagem que se oponha à versão oficial (você tem que se vacinar) é classificada como “negalista”. Apenas a Internet escapa dessa caça às bruxas.

Existem várias maneiras de forçar abstencionistas. O mais direto seria decretar a vacinação forçada, como é feito com a pecuária, mas essa medida viola os direitos fundamentais do indivíduo. Há uma forma indireta que envolve fraudes na lei: decretar regras que impõem exigências inacessíveis ou muito caras aos não vacinados para cumprir (PCR negativo) para realizar atos diários: viajar, ficar em hotéis, consumir em bares e restaurantes, testemunhar shows, praticar esportes, etc. O passaporte ou certificado Covid é usado precisamente para discriminar e prejudicar os direitos dos não vacinados. De fato, essas práticas supõem um apartheid sanitário cujo objetivo é segregar socialmente a minoria de abstencionistas.

Para piorar, o governo impõe servidões abusivas a empresários e funcionários de certos setores – hospitalidade, restauração, lazer: a) Transforma-os em “fiscais de saúde” de seus clientes, forçando-os a verificar quem é vacinado ou não; b) Transforma-os em “polícia de saúde”, forçando-os a rejeitar aqueles que não concluíram o esquema vacinal (e não apresentam PCR negativo). E se eles se recusarem a executar essas tarefas, serão multados. Todo o sistema é coercitivo.

As autoridades também usam uma terceira maneira — propaganda — para estigmatizar socialmente o abstencionista. Uma divisão maniqueísta é promovida na opinião pública: boa e ruim, vacinada e não vacinada. Socialmente, os primeiros são apresentados como cidadãos exemplares e solidários; enquanto os últimos são rotulados de egoístas e explorados (cavaladeiras livres). Saudável e legalmente, as pessoas vacinadas são tratadas como presumivelmente “saudáveis” (PC negativo não é necessária) e não vacinadas como presumivelmente “doentes” e potenciais “infectantes”. Ambas as suposições não são apenas falsas, mas constituem agressão injustificada.

Randolph Bourne, que morreu na epidemia de gripe de 1918, escreveu: “A guerra é a saúde do Estado”. Da mesma forma, a emergência por Covid-19 reproduz as agressões que o Estado perpetra contra a população. Políticos, ávidos pelo poder, monopolizam a vacinação, confiscam a propriedade privada, confinam injustamente a população, proíbem o trabalho e fomentam o ódio aos não vacinados. Diante do medo de estar infectado, doente e até morrer, a sociedade retorna a um estado tribal: o raciocínio lógico cede à emoção e à lei à ordenança arbitrária. Estamos testemunhando, em suma, um processo de descivilização que deve ser combatido com argumentos sanitários, éticos e legais.

José Hernández Cabrera 04.08.2021


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10 08 2021
Diogo

Caminhamos a passos largos para uma sociedade com cidadãos de 1a e de 2a, de “puros” e de “impuros”.
A apatia generalizada (e o apoio da maioria a medidas que violam direitos universais) faz-me lembrar quando li sobre os direitos civis, escravatura e Holocausto: “Como é que é possível que tantos tenham caído nesta conversa?”
Agora já sei!

Um abraço,
Diogo Carriço

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